28 abril 2006

Existe uma piada em que três filósofos pensam a respeito do jumento, um alemão, um francês e um britânico. Na minha estória tem também um brasileiro.
O inglês, empirista desde criancinha, começou por observar atentamente o espécime. Comparava-o a cavalos, éguas e pôneis. Tratava-se de animal ungulado e de pêlo duro, cuja coloração variava do castanho-fulvo ao cinza-cinza. Animal facilmente domesticável, forte porém tosco, bruto e de grande potência sexual. Resultava de cruzamento de cavalo com jumenta ou égua com jumento, o que o torna estéril, híbrido. Animal mamífero, perissodáctilo, etc. Por fim, o inglês deu uma volta em cima do bicho. Não gostou muito, logo desceu.
O francês, sujeito calmo e vigoroso, poético e polido, coçou a barbicha e escreveu um ensaio sobre o caráter do burro. Retomou a Ilíada, argumentando a impossibilidade da guerra de Tróia - e a consequente vitória helênica - prescindindo desses animais. Ora, são animais de carga, fortes, carregavam as armas dos heróis, os próprios heróis por vezes, como o caso de Xanto e Balios, cavalos de Aquiles. Descobriu que a linhagem dos burros provinha de Veiga, cidade lusitana famosa por seus "puros-sangues". Criticou vigorosamente a noção preconceituosa que relacionava burros e pessoas estúpidas, sem inteligência, orelhudas. Concluiu pela superioridade desses animais sobre todos os outros, inclusive o homem, espécie má na origem. Publicou seu ensaio num haras e o dedicou aos burricos.
O alemão, sábio entitulado até o último fio de cabelo, careca, trancou-se em seu escritório surante oito semanas, estudou toda a literatura disponível acerca de jumentos, pensou, pensou, colocou em dúvida o seu pensamento, fez raciocínios abstratíssimos, inventou conceitos, propôs novas idéias numa propedêutica, desenvolvendo um método próprio e original, com o qual não haveria qualquer fraude. Pensou mais um pouco, sentou-se novamente em sua cadeira, recolheu seus apontamentos e escreveu 4 tomos de pura metafísica. No epílogo, duvidava hiperbolicamente da existência de tal animal, argumentando tratar-se de ilusão ou mentira.
O brasileiro, com toda a sua incapacidade, ficou com sua usual preguiça e se esquivou desses pensamentos, montou no burro e foi trabalhar.

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