Lembrei-me do que esquecia abaixo (parte I). Mas blog se lê de baixo pra cima, na ordem. Costume koreano, quiçá - palavra sterniana. Pensava em saudosos dias; era cético no sentido antropológico, não acreditava em pessoa alguma, e por conseguinte, não me levava a sério. Zombeteiro, à primeira vista fingia timidez - que é pra poder escutar o tom de voz se alterando. Percebe-se a mentira alheia por um método simplíssimo, mas há que treiná-lo: escutar de viés, fornecer dúvida, olhar inatento, sorrir das gracinhas, deixá-la à vontade para disparar a escabrosa falsidade, por si. E depois da primeira a segunda, a terceira, até a infinidade. Uma estatística afirma que mentimos cerca de vinte vezes ao dia. Acho pouco, porque contam só as imposturas verbais, ao passo que o corpo é que é fonte fidedigna para essa investigação. Mas ao vencedor as bravatas...
As pessoas são religiosas sem sê-lo. Prometem o que não são capazes de cumprir. A semana tem sete dias, domingo, nosso sagrado descanso. Isso sem contar os rituais, as cabalas, as superstições pagãs, mandingas maometanas, ornamentos arabescos, monumentos centro-americanos erguidos aos montes, mais as gregarias da irmandade ocidental. Há também os anarquistas; mas sempre houve-os, por isso aos adolescentes era atribuida a reta educação, a medida para o excesso.
Religioso, digo, no sentido de transcendência perdida, valátil; junto ao desejo sublime de realizá-lo. Nesse jogo aceita-se a melhor proposta, custo-benefício, o lance que mais facilmente se comercializa, que promete ao sentimento cumpri-lo, exterminá-lo. Por conseguinte, o absurdo do agnosticismo é suster-se num outro nível, presumido acima, porque o ideal de transcendência não mais se nutre, realizou-se. Entretanto, como é isso possível se nem santos são? E sendo-os aí é que um único ser não suportaria tamanha contraditoriedade em si.
Veja-se Sartre: o grande liberto do século XX. Aquele mesmo que perambulava messianicamente até sua real condenação, a facticidade, a responsabilidade imensa de quedesfrutamos ao agir - e reagir. Cristo, conta, também sentira o ultraje; e seu pai, sua dúvida, na cruz: "vale mesmo a pena?" Não é ceticismo, é dúvida.
Em entrevista a seu tradutor alemão, Guimarães Rosa afirma que (... política). Sua alienação é estratégica, louvável. O mesmo não se pode dizer das noveleiras ou dos universitários que se funkam na boquinha da garrafa, que procuram na negação da negação da negação... seu cult aliado ao 'tô nem aí' pós-infantil, como se 'aproveitar a vida' fosse uma invenção recente, sua.
Não escrevo essas linhas por revolta, desprezo, arrogância, ironia ou sentimento que o valha; mas simplesmente porque, não tendo mais o que fazer, meus dedos batem as teclas automaticamente.
Lembra-me aquele poema do Guardador de Rebanhos, no encontro da criança caeira com o menino jesus. Este dizia espulhérias de Deus, porque pensar nele é desobedecê-lo - desde as teologias místicas.
A poesia pessoana é de bêbado (não para), ou nem sei que outra droga. Decerto não estava lúcido ao compor a maioria de sua obra. E isso também é uma questão de autoria, um modo de burlar os limites da metalinguagem, de zombar de minha cara, levar-me ao abismo. Eu, que longe de ser um nietzschiano, sinto-me realmente mal ao pensar que, lendo-o, participo de seu rebanho - e discípulo é tudo o que ele não queria, manifestamente.
São cegos que não conhecem a palavra: "Quem tem olhos que veja" (de preferência por si mesmos). A "Parábula dos Cegos" de Bruegel. Tem também aquele conto do Guimarães... Mas isso é outra estória, porque cansei.
Religioso, digo, no sentido de transcendência perdida, valátil; junto ao desejo sublime de realizá-lo. Nesse jogo aceita-se a melhor proposta, custo-benefício, o lance que mais facilmente se comercializa, que promete ao sentimento cumpri-lo, exterminá-lo. Por conseguinte, o absurdo do agnosticismo é suster-se num outro nível, presumido acima, porque o ideal de transcendência não mais se nutre, realizou-se. Entretanto, como é isso possível se nem santos são? E sendo-os aí é que um único ser não suportaria tamanha contraditoriedade em si.
Veja-se Sartre: o grande liberto do século XX. Aquele mesmo que perambulava messianicamente até sua real condenação, a facticidade, a responsabilidade imensa de quedesfrutamos ao agir - e reagir. Cristo, conta, também sentira o ultraje; e seu pai, sua dúvida, na cruz: "vale mesmo a pena?" Não é ceticismo, é dúvida.
Em entrevista a seu tradutor alemão, Guimarães Rosa afirma que (... política). Sua alienação é estratégica, louvável. O mesmo não se pode dizer das noveleiras ou dos universitários que se funkam na boquinha da garrafa, que procuram na negação da negação da negação... seu cult aliado ao 'tô nem aí' pós-infantil, como se 'aproveitar a vida' fosse uma invenção recente, sua.
Não escrevo essas linhas por revolta, desprezo, arrogância, ironia ou sentimento que o valha; mas simplesmente porque, não tendo mais o que fazer, meus dedos batem as teclas automaticamente.
Lembra-me aquele poema do Guardador de Rebanhos, no encontro da criança caeira com o menino jesus. Este dizia espulhérias de Deus, porque pensar nele é desobedecê-lo - desde as teologias místicas.
"E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O menino Jesus adormece nos meus braços
E eu o levo ao colo para casa"

São cegos que não conhecem a palavra: "Quem tem olhos que veja" (de preferência por si mesmos). A "Parábula dos Cegos" de Bruegel. Tem também aquele conto do Guimarães... Mas isso é outra estória, porque cansei.
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