27 julho 2005

O Menor Conto do Mundo.

Um hondurenho criado na Guatemala e exilado no Chile vangloriava-se por ter escrito, acho que na década de 80, o menor conto do mundo, até que a moda pegou e se iniciou as tentativas infames de batê-lo. Tudo pelo recorde, por míseras linhas no Guinness Book of Record. Chama-e El dinosaurio: “Cuando despertó, el dinosaurio todavia estaba alli”. Há pouco uma argentina se arriscou: “Fujamos! Os caçadores de letras estão aq...” E por meia palavra levou. Bom pra ela, pior pra nós que não consideramos seu descaramento. Isso é plágio duplamente, na intenção e no gesto.
Quanto ao maior conto não resta dúvida: Grande Sertão: Veredas. E o mesmo Guimarães Rosa, no
Terceiras Histórias, dispara uma série de continhos, cuja concisão oculta sua épica. O certo é que a maioria deu um sertão ou uma vereda. Têm também os prefácios, quatro, que compõem obra a parte. Dizem que Machado é o mestre do conto. Concordo. Suas melhores páginas estruturam-se por essa arte de narrar pequenas estórias. Cada romance se constitui de pequenos agrupamentos narrativos, que, longe de sintetizá-lo, aglutinam sentidos.
Confesso que não é possível, para alguns autores, apartá-los de suas obras, até porque narrar é em certo sentido viver. Veja-se o prefácio de Várias Histórias. A simples idéias que nos dá na cabeça reduzir a linguagem, tratá-la como um ser amorfo, em princípio, mas com contornos que ocupam a mão. O último dos Veríssimos garante que é possível expressar qualquer pensamento em menos de sessenta linhas. Talvez.
Mandei o Stener cortar pelo menos a metade do nosso conto, questão de economia. Agora que minha participação findou-se, tenho outros planos, embora meu grande plano de férias tenha se asfixiado por submersão. Pouco me importa, e isso é o mais importante.
Estou disposto a quebrar o recorde dessa argentina, mas não por métodos sórdidos. Aí vai o primeiro. Chama-se O que fica pra depois do fim: "Intentavam malogrosamente consumir Jazz e whisky". Ou então esse: "Morreu herói embora ultrajado e sem espada".
Poderia escrever mais uma porção desses. Mas não; prefiro interagir. Além do mais, o Guilherme disse estar esperando uma oportunidade. Quem se encoraja?

Um comentário:

Alex Lara disse...

"Polêmica":

Ria-se; e nem mesmo um pio. O tiro saíra-lhe pela culatra, assassinou-se o verbo. Nem Deus em si mais cria. Criou-se o acaso e o silêncio.

Ass: J.-Pirâhá.