Desprezava toda a gente. E era paradoxal porque ali vivia - entre. Não tardava as sete da manhã e o ônibus, o centro cheio, pessoa e meia por metro, efevercido, pululado. Uma só gritaria, embora não se distinguisse sequer uma voz, uma frase, um rosto, um ritmo, um espasmo. Desconhecia e desprezo. Talvez não fosse por isso paradoxal. Escapolia do trabalho ao banheiro. Tinha tranca. Despia-se. Sentava e recolhia os joelhos junto à testa. Fechava bem os olhos e desejava esquecer. Sempre pensava, e desprezava toda a gente.
Enxugado o rosto, retomava o lavor. Largava às seis. Hora do rush. Elevadores superlotados, cai não cai, arranha-céus, fumaça empregnada, as lixeiras, bares, bueiros, sinais, aqui acolá, a esquerda e a direita: trapos, a chuva avançando, cadeiras de roda, chicletes e outras coisas. Gostava das coisas; era apenas para as gentes o seu desprezo. Talvez fosse paradoxal, uma vez que circulava por entre, ultrapassava-as, bom-dias, obrigados, sim senhores, mais alguma coisa?, um café, por aqui, na sala ao lado, pode entrar, senhora, não se preocupe, estou só confusa.
Em casa: a família. Tinha um peixe. Ela o tratava como coisa. Dia sim, dia não, trocava a água, esfarelava o pão, dando ao bicho o de comer. Esperava a mesa esvaziar e sentava-se para jantar. Não assistia novela, filme, nada de música, em Deus não cria. Tudo isso lembrava-lhe gente. Gostaria de esquecê-las. Quando pensava nisso preferia a solidão. Desprezava as gentes.
Certamente há nisso um paradoxo, porque fechada em seu quarto - e reclusa - convinha apagar as luzes e tapar os ouvidos. Sua sombra era demais. Sua voz. Escapara de tudo, exceto de si mesma.
Enxugado o rosto, retomava o lavor. Largava às seis. Hora do rush. Elevadores superlotados, cai não cai, arranha-céus, fumaça empregnada, as lixeiras, bares, bueiros, sinais, aqui acolá, a esquerda e a direita: trapos, a chuva avançando, cadeiras de roda, chicletes e outras coisas. Gostava das coisas; era apenas para as gentes o seu desprezo. Talvez fosse paradoxal, uma vez que circulava por entre, ultrapassava-as, bom-dias, obrigados, sim senhores, mais alguma coisa?, um café, por aqui, na sala ao lado, pode entrar, senhora, não se preocupe, estou só confusa.
Em casa: a família. Tinha um peixe. Ela o tratava como coisa. Dia sim, dia não, trocava a água, esfarelava o pão, dando ao bicho o de comer. Esperava a mesa esvaziar e sentava-se para jantar. Não assistia novela, filme, nada de música, em Deus não cria. Tudo isso lembrava-lhe gente. Gostaria de esquecê-las. Quando pensava nisso preferia a solidão. Desprezava as gentes.
Certamente há nisso um paradoxo, porque fechada em seu quarto - e reclusa - convinha apagar as luzes e tapar os ouvidos. Sua sombra era demais. Sua voz. Escapara de tudo, exceto de si mesma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário