09 setembro 2006

Um grande vazio. Imenso.
Menor do que qualquer mentira, o segundo cartão amarelo, a visão do inferno. Maior do que meus pensamentos ao lavar toda a louça. O encontro, não nos contemos. Os outros desistiram - inexistiam. Eu insistindo em me calar, sem ruído. Ela insinuando ahs e ohs, ihs e todas essas meias palavras não ditas, malditas porque sem sentido para nós, homens do século XXI, nós que sentimos o mal-estar de não sentir, que viemos a criar coisas sem estética, que afirmamos não nos importar quando um verme nos rói por dentro, persiste. Como insetos em volta da lâmpada e varizes e a fenda e o fosso da memória corporal, de inauditos ohs e ais que se não machucam, apenas por existir incomodam, tanto que eu prefiro me calar. E nem um gemido, uma meia palavra, um quarto.
A dor de cabeça. O dia. Sem tempo.
Meu Deus, a casa um caos. A cama. O café.
Depois de todos esses anos seu rosto parece uma areia movediça em minha memória. O escuro, o claro. Nu. A dor de cabeça não perdoa, martela cada momento, cada lembrança esquecida. O superego. A casa um caos, e Deus sabe o quanto eu não suporto a bagunça alheia.
- Deixa que eu mesmo lavo.
- (...)
- Um banho seria bom.
Anakronicas. Eu me lembro dela e o quanto eu gostaria de que fosse ela quem me abraçasse por trás, como um homem, mas mulher e toda aquela poesia que eu insisto em negar, e no fundo, se tivesse fundo, eu simplesmente me desconheço, mesmo nesse reconhecimento infinito que é escrever e lavar pratos. Essa falta em sintaxe.
Refaço a noite. E o vazio de não querer mais.

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