05 fevereiro 2007

Sentido das Coisas II

Eu era mesmo um merda. E ela, o cogumelo que me suga até a última podridão e se apraz em sentir meus dejetos em suas mucosas parasitas. E só vem-a-mim vem-a-mim vem-a-mim... Nunca usava o subjuntivo e isso foi sua pior qualidade.

...

Eu não era um merda. Pelo menos não mais que um monte de dejetos não evacuados. Era um merda dentro de mim mesmo, nos intestinos. Guardava qualquer coisa, qualquer estorieta, qualquer impressão das coisas, sentimento anacoluto que fosse, bastava ter sido meu parcialmente e não largaria, nunca, feito cão que morde o osso, eu me tornaria um pit-bull e morreria pela lembrança de cada lembrança. As pessoas costumam mudar, desamar, malamar, restaurar laços, lançar ao fogo papéis antigos. Eu não. Eu era como uma folha que ia se dobrando ao infinito, até que amarelar e tudo pegar fogo sem que eu riscasse fósforo. No fim, cinzas, embora minha merda ainda fosse marrom.

Um comentário:

Ana Luisa Lima disse...

"Eu era como uma folha que ia se dobrando ao infinito, até que amarelar e tudo pegar fogo sem que eu riscasse fósforo."


A coisa mais bela que já li...