29 agosto 2005

Mas e o humour? (vol. I)

Não tenho um cão e vejo-me perder a mocidade . No entanto, nada de lágrimas. Sabe-se o quanto as odeio; e odeio, por assim dizer, quando estão à mostra. Qualquer estudante de psicologia precipitar-se-ia em meu caso. O que lhes falta é inventividade. Conheço-os um monte, e não decoraram uma frase sequer de Freud. Freud que fez da psicologia um ramo da psicanálise. Pasmem, é verdade. Eles não são freudianos; de fato, alguns odeiam psicanálise apenas porque outros dedicam-lhe amor. E novamente caímos no que descrevia como “dogma do universitário”, isso de negações sucessivas, isso de perder-se em níveis. O que lhes falta é inventividade; imaginar modos de, como dizia mamãe em sua fase hippie, “soltar as amarras”.

Guilherme, que, suponho, pouco conhece de psicologias, falava algo interessante, cultivava a “teoria do morro”, bastante simples na aplicação e de efeitos surpreendentes e orientadores. Basta dispor vários pontos numa reta, cada um dos quais representando acontecimentos, fatos, eventos de natureza semelhante derivados do cotidiano. Em seguida, faz-se uma análise da melhora da vida através de um gráfico, elevando o segmento quando o fato subsequente for considerado superior; rebaixando-o, caso contrário. O que se descobre - e o que direi é também um pressuposto dessa teoria – é uma disjunção que proporciona estabilidade ao sujeito. Ou se sobe ou se desce, nunca se sobe e desce. Mesmo se supormos uma reta longa verificaremos que os seus altos e baixos são constantes e permanentes. Não há morrinhos, quebra-molas, pedras no caminho, obstáculos pequenos. Há apenas himalaias. Contudo, qualquer que seja o ponto há sempre a possibilidade de uma avalanche.

Por exemplo: eu (mesmo não considerando blog um diário, seria calunioso citar outra pessoa). Minhas últimas semanas têm sido catastróficas. As penúltimas foram boas, excelentes, saudosas. Estas ocorreram nas férias. Dia de sexta-feira extasiava-me, consciente de que era o começo, e, não obstante, o clímax. Vinha em enlevo, como uma besta a subir, sem pensar, como feito sem consciência, um leviano do dia seguinte. A teoria do Guilherme certamente deve à teoria newtoniana mais do que a de Einstein, afinal o primeiro já dizia “se subiu tem que descer”. Eu nem colírio tinha; cego, enxergava apenas o já subido. Mas as coisas mudaram. Feita a análise no gráfico, deduz-se o local exato do cume, do início da queda: a derrota na mega-sena. Quando insisti em jogar. Estava com sorte, precipitei-me. Nos últimos tempos coleciono fracassos, como o Fernando Pessoa do Poema em linha reta. Falando em poetas, Drummond de Andrade certamente aconselhar-me-ia:

“Tudo somado,
devias precipitar-te, de vez, nas águas.”

Mas e o humour? - pergunto-lhes.

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