Nunca tenho pesadelos ou não lembro de havê-los sonhado. Ontem foi exceção. Acordei meio sem sentir as pernas. Paralítico? Só podia ser preguiça. Esforcei-me um pouco e percebi que era o frio. Meu corpo tem desses instintos de autopreservação. Ou seria auto-alienação? Bom, não importa, o fato era que eu já estava de pé. Queria passear; passeio, pessoas no passeio, pessoas, pessoas, rua, !, buzina, um salto, quer morrer?, quase me atropelam. Na queda machuco o braço, ralo a mão. Uma velha vem me ajudar. Ai, aí dói. Machucou? Velha cega. Cega e surda, aposto. Mas apostar com quem? Um ônibus pára, eu o apanho. Não sei bem pra onde vou. Sento, fecho um pouco os olhos. Primeiro o barulho da cidade, depois o silêncio, por último a freiada que me joga adiante. Era barulho ou silêncio? Não quis refletir sobre isso e saltei logo. Estava escuro. Não havia nada à minha volta. Uma ratazana, talvez. Alguns insetos, cheiro de sangue e vômito. De repente, dezenas de baratas pequeninas. Anãs. Mas cresciam, a cada segundo eram maiores e mais numerosas. Gigantes. Eu pisava nelas, as socava contra o meio-fio. Como Schwarzenegger no Exterminador do Futuro 2 - era como me senti. Mas então o Schwarzenegger tem de se lançar ao fogo porque também é um andróide e deve ser exterminado. Ele se emociona, mas não pode chorar. As baratas mortas expeliam um musgo verde-amarelado que ia se acumulando (como o efeito de mercúrio líquido do T-1000) uns sobre os outros até formar um poço enorme - no qual eu saltei sem mais.
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