Lá fora chove uma chuva tão gostosa que acordo para sonhá-la. Vontade de comer. E o frio que adentra o quarto pelas frestas. Carnes. Arestas que cortam carne fresca. Mutilam. Sem coberta, coberta de sensações as mais inverossímeis, dessas que vêm como o fresco da fresta de uma janela entreaberta e nos arrebata como um despertar. O pau duro do amanhecer. Alvorar. Carne. E mesmo o sangue, que não é seu oposto, esfria e arde como Mertiolate. O sopro que alivia o machucado. O beijo materno, o vai sarar. Dorme menino, dorme feito o guardador de rebanhos. O desassossego. Até que nasça qualquer dia, até que o próprio tempo pare para contemplá-lo. Como se ouvisse Chopin, ouvindo em verdade apenas a chuva. Outono, inverno. O chão. As gotas que amalgamam, mal amam, desamam e confundem amor e fúria, despencam de tão longe, tão longe estrada. Estio. Repicam no chão como palmada de Havaianas. Fulminam todo pensamento enquanto o sono se desfaz em prosa autônoma. Desarmonia. Vênus sem braço. Caneta sem mão. Sem carne. Sem homem. Mulher. O peito tão... aliás, frio: Transpulmin.
Um comentário:
Eu o continuo lendo, achando tudo perfeito, como sempre...
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