29 setembro 2006

Paradoxo II

Correu. Em disparada como se corresse atrás de si. Correu para fora da caverna feito Indiana Jones em busca do cálice sagrado. O Graal, o copo cheio de ar. Mantinha o semblante de quem derrota o Diabo ou se imortaliza numa estátua. Sem olhar pra trás, Exuberância.
Como um passe de mágica, varinha de condão, através de salto fenomenal, estupendo salto, desses de dublê em Hollywood, alcançou o lado externo, e de dentro do lado de fora avistava o céu límpido e alucinante, o sol que cega quem não se aveza à verdade, o brilho da mentira que de modo algum se assemelha ao falso. O Ocidente adquiriu uma primazia em relação ao real.

Escapoliu entre os destroços e a cegueira que se erguia a seu redor, mas cego não soube distinguir se a poeira que lhe adentrava pelos olhos lhe cegaria ainda mais ou se apenas o machucaria. Talvez fosse inofensiva. Intacto, sem gota de suor, sangue, compaixão. Saltava-lhe o coração pela boca, e a cada retumbar um passo. Olho de herói, outro de místico.
Guardava seu metro de altura, mas hipsofóbico evitava olhar para baixo e mantinha quase que involuntariamente um semblante heróico, destemido. Guardava-o como segredo secretíssimo, porque místico, porque ninguém cruzaria a longa ponte que se erguia à sua frente sobre o precipício sem cegar-se a si mesmo. Parou. Volveu. Atravessaria ao contrário, como se apertássemos o reward do DVD. Passo ante passo, de costas. Percebeu então um último inimigo. Era-lhe impossível, porém, revolver-se, já que tão diminuta era a ponte, cabendo apenas a largura de um pé. O super-homem voaria.

Desembainhou sua espada e a cravou no peito, deslizando-a pelo dorso até o umbigo, onde a torceria de um lado a outro como se desarolhasse vinho. Saca-rolhas. O sangue escorria-se-lhe pela mão, pelo ralo dos dedos que não fazem parte da mão, mas que a definem enquanto mão, pela superfície instavel da ponte. Ao perceber-se derrotado cortou de uma só vez as cordas que sustentavam a ponte, de modo que nem mesmo precisasse saltar de tal altura, seu metro, o dobro da metade de si.

2 comentários:

Ana Luisa Lima disse...

Entendi porra nenhuma... E repito, quem é que precisa entender?

=P

Tua escrita é grande e hermética e eu não tenho o (re)conhecimento necessário para.

E a despeito disso, lê-lo dá-me um enorme prazer (estético).

Só isso basta e mais nada...

Stener disse...

Isso de caverna, com hollywood ou não, é uma metáfora antiiiiiiiiigaaa!!!