"(...) Não se trata de um prazer genital. Fase oral: o mamar para o bebê não corresponde ao prazer orgânico ou ao alívio em relação à fome, mas sobrevem do prazer em sugar, ritmadamente, tensionando o palato e a lingua, movimentando fugazmente os lábios e toda a boca em vai-véns contínuos, sensatos, ejaculantes; daí o afluxo do leite fresco e nato que excita a mucosa, o mamilo ponteagudo e rugoso que adentra a cavidade bucal remexendo em exstase a vontade mesma de ser – a vida pela vida. À margem de qualquer saciação orgânica – tratar-se-ia de alimentar a alma caso fosse de se falar em alma - insuflam o ego possibilitando-lhe o amadurecer, que, como vimos, se surpreende em auto-engano. Os próprios e minúsculos dedos tornam-se ‘objetos-pretextos’ que emulam o que se experimentara originalmente, misturando-se a memória e o presente, chupando o lascivo gosto do polegar, fantasia de si mesma, o paladar e a imaginação, extrato do corpo e a intenção fugidia de ter-se; por fim, quando apontam os primeiros dentes, mordidinhas efêmeras complementam o ritual, às vezes com pitadas de raiva, quase sangram, como se estivessem a provar o próprio corpo, sua força e sua resistência, pô-lo a prova nessa realidade irreal, surreal, fantástica, una. (...)
Um comentário:
Faltou uma aspas aí, não?
Postar um comentário